sábado, 9 de maio de 2009

Realidades


Carlos: o Bonequeiro ciclista que viaja pela américa do sul há 11 anos, já percorreu mais de 20 000 quilómetros e pretende continuar a fazê-lo e manter a proeza pela europa fora.


Piedade: Vive no Rio Grande do Norte, no Brasil, nunca saiu dos arredores da cidade onde nasceu. Nunca sentiu frio na vida, nem usou casaco.


Ambos unidos pelo fio condutor da amizade, separados pela discrepância de realidades


No outro dia conversei com Piedade e disse "tens de perguir o teu sonho, piedade, de seres assistente social, terminares o vestibular e fazer o curso que sonhas".

Por vezes a vida no Rio Grande do Norte emana um calor que entorpece a alma e nos deixa num estado de latência e acomodação e muitos de lá, achando que têm o paraíso do trópico nas mãos, acham que nada mais precisam de conhecer, e por lá ficam, a vender na praia a turistas e a usufruir do que a natureza dá. No entanto será que isso é a realidade?

O mundo é tão grande, e a vida apenas uma, como podemos perceber a nossa vida se nunca dela sairmos, se nunca observamos o que existe além, conhecer outros mundos, afastar por vezes do que conhecemos é que nos cede a percepção do que somos, como pessoas, no próprio sentido de passado e presente.

Como podem as pessoas falar de paises e cultras e vidas, sem as conhecer, e sem próprios perceberem com clareza as delas, se nunca de lá sairam?

Carlos é o oposto. Saiu para conhecer o mundo, para ter uma perspectiva como era a vida dele, para se encontrar. Mas as pedaladas foram tão longe que perdeu o rumo para casa, e agora é um mero visitante, estranho do mundo inteiro, apesar do mundo ser a sua própria casa.

Mas será que as pessoas que viajam o fazem por se sentirem a viver um realidade incompleta? Creio que não. Faz sempre bem ver outras realidades, nem que seja para aprender a valorizar mais a nossa. A não ser que se leve a viagem longe de mais, é preciso sairmos de casa para perceber o lugar nosso nela, e no mundo.


E depois voltar, corrigir ou aproveitar o que temos, ou simplesmente recomeçar noutra casa que o nosso coração encontrou pelo caminho.