domingo, 14 de setembro de 2008

Anoitecer


Anoitecer em sines


Concertinas tocam desenfreadamente, fundem-se com palmas, dança, fumo, poeira e pés.
Faiz grita , rasga as cordas vocais numa concertina, misturadas com as outras cordas, concertinas também humanas.
tocam deus. incansável, intemporal, fundese-se com a lua, e com a plateia que vibra e dança, e acima de tudo que ouve.
Faiz limpa o gota de suor que lhe cai da testa com um lenço branco, depois de ter cantado tantas palavas tão rápido a sua cabeça já zunia, tinia, não sabia se do esforço, se da velocidade com que as tinha pronunciado.
Luzes percorriam o palco, amarelas, verdes e rosa, ofuscavam Faiz.
Sentia o calor do público, as vozes, milhares de braços a agitarem-se em uníssono, separados todos pelas cultura e nacionalidades, e todos (re)unidos pela sua voz.
Lá no meio estou eu. O Oliver, o meu namorado, olhava para mim enquanto fazia um esforço para dançar uma música que é feita para ser ouvida, como eu. A ligia, minha irmã conversava animadamente com o Gonçalo atrás de nós, com o seu copo de vinho tinto de plástico, da herdade do esporão, ao qual considerou "bom" de acordo com a sua recente noção de enologia. O Sascha, ou melhor, o amigo alemão, encontrava-se lá para o fundo, com o seu chapéu verde e patilhas de cowboy , movendo braços, mãos e pernas em gestos circulares, que forma quase exuberante, enquanto tropeçava no meio dos pés de uma multidão completamente lotada.

Agora apenas eu, em frente a um ecrã, a ouvir a voz de Faiz a desdobrar-se nas colunas do meu computador. O relogio indica 00:36. Está a ficar tarde. Talvez, deva-me ir deitar, penso. Não faz mal. Amanhã começa o bem ou maldito primeiro dia de aulas, maldito porque encerra um ciclo, bemdito porque inicia outro. acabo de me apeceber que voei durante um bom bocado e que afinal estou aqui. Assim como uma moeda que se atira ao ar e que voltou a cair, desta vez numa face diferente.

Pessoalmente sou mais observadora, costumo guadar o que escrevo só para mim.

Desta vez apateceu-me mudar. Revelar a face que conta, sonha vê e relata, mas essencialmente revelar a face que partilha com os outros o pensamento desdobrado em letras.







1 comentário:

Lígia disse...

Mariana, és uma artista!!!
Nunca pensei que te revelasses tão maravilhosa escritora! Um beijinho, vou-te visitar todos os dias por isso quero ver novos posts!

Ps: manda-me o texto que escrevi sobre Sines para eu pôr no meu blog por favor!